Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

sábado, 1 de março de 2014

António Barreto e António Gedeão

Rómulo de Carvalho foi nomeado professor efetivo do Liceu de Vila Real, em 19 de fevereiro de 1956, tendo exercido nesta escola durante esse ano.
Poderemos testemunhar a presença deste professor e poeta numa entrevista a António Barreto, realizada por Anabela Mota Ribeiro, da qual citamos algumas observações sobre a escola e sobre o poeta.

Gostei dessa escola. O nome que o Estado Novo lhe deu era Liceu Nacional de Vila Real, mas toda a gente dizia Liceu Castelo Branco, que era o nome dado no princípio da República. Os meus pais, quando eu tinha dois ou três anos, mudaram-se para Vila Real, levaram os filhos atrás e fizeram mais uns tantos – tenho sete irmãos. Por que é que mencionei Vila Real? Foi um daqueles gestos aparentemente fortuitos..., mas gostei daquele liceu.

Era um liceu confortável, o que é estranho, porque Vila Real era desconfortável, longe de tudo, um gelo. O liceu tinha aquecimento central, todas a salas tinham um ou dois radiadores. Tinha uma biblioteca lindíssima, cheia de livros, nuns armários com uma rede de ferro. Podíamos requisitar os livros e lê-los lá. Para um miúdo de dez anos, 12 anos, em Portugal, não era tão usual quanto isso. Era o único liceu em todo o distrito, (Chaves, Régua, Vila Pouca, Alijó, Murça), o que mostra bem o número de pessoas que chegava ao liceu. Se juntasse todos os de Letras, éramos 25.

Tive péssimos professores. Uns fascistas, outros imbecis. Mas dois ou três marcaram-me. O Carlos Sanches ensinou-me a ler História, a perguntar “mas por que é que é assim?, por que é que não foi assado?, por que é um país tem fronteiras?”. Ensinou-me a ler um livro, mas a ler o que não está no livro…

Tive a sorte de apanhar o Rómulo de Carvalho, também António Gedeão, que dava Física e Química.

É paradoxal, mas foi aquele liceu, com toda a sua mecânica, que me disse: “há um mundo lá fora, vai”. Fiquei com vontade de ir embora de Vila Real, da província. Era um lugar abafado, fechado. Não tenho uma recordação dourada, nem mágica da adolescência. Mal pude, fui a correr, a correr, para Coimbra. E mal pude ir de Coimbra, também fui embora. 


Citações da entrevista publicada originalmente no Jornal de Negócios , por Anabela Mota Ribeiro, em 27/05/2013


N.B. A entrevistadora também foi aluna do liceu.

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